Tânia Rabello
Sábado, 19 de maio, todo mundo acordou cedíssimo, se encontrou por volta das 6 da manhã em São Paulo – outros vieram de Botucatu, Araras e Amparo – e pegou estrada. Trezentos quilômetros até Itaí, região de Avaré (SP), onde fica o sítio de dona Ana Primavesi. Fomos conhecer o laboratório vivo, a céu aberto, onde dona Ana, nestes últimos 30 anos, provou que é possível recuperar uma área degradada, fazê-la produzir, até melhor do que a agricultura convencional, e uma mata se regenerar. E com ela, nascentes rebrotarem do solo, sem contar a fauna, que também retornou onde antes só havia uma espécie animal e não nativa do Brasil: bovinos. Basta se dispor a isso, que a natureza responde, bem, e rapidamente. Dona Ana, infelizmente e por causa da idade, não pôde dar uma bela volta conosco na propriedade. Mas Carin, sua filha, animou-se e depois do almoço, enquanto dona Ana descansava, nos mostrou a mata já formada, nascentes que ressurgiram, o açude lá embaixo, alimentado pela água que aflorou. Ainda há área de pasto que poderia estar mais bem cuidada e eucaliptos que estão sendo derrubados, pois foram vendidos – um deles quebrou o mata-burros da estradinha de acesso ao ser derrubado – e dão um aspecto um tanto desolador para o sítio. Mas Carin manda um recado de dona Ana: “Olhem e pensem no solo. Ele está vivo.” São 96 hectares, se muito andamos em uma pequena parcela, talvez um, dois hectares apenas, mas chegamos ao alto, de onde se tem uma bela vista da região e dos limites do sítio. A visita serviu também para as pessoas ligadas ao movimento orgânico e envolvidas no processo de venda do sítio de dona Ana Primavesi fazerem mais uma reunião para definir qual a melhor forma de atender à família, que quer vender a área, e ao Planeta, que precisa cada vez mais ter áreas como essas, recuperadas, orgânicas. A ideia que mais tomou corpo nessas reuniões foi a constituição de uma Fundação, a Fundação Ana Maria Primavesi, que seria a responsável pela gestão do sítio, seguindo à risca a cartilha de dona Ana, com recursos advindos de algum grande investidor interessado em preservar o meio ambiente e difundir a agricultura ecológica nos trópicos. Assim, está-se agora preparando um estatuto para esta fundação, que em breve, esperam todos, deve ficar pronto. A partir daí, começa-se a bater de porta em porta para ver qual ou quais empresários estariam interessados em injetar recursos neste projeto de futuro e de longa vida, sem modificar ou depreciar o trabalho de dona Ana no sítio e utilizando a área ainda como um polo difusor de agroecologia. Surgiu também a ideia de um blog só sobre a Fundação, que porém ainda não está no ar e assim que estiver será divulgado por aqui também. São 96 hectares prontos para receber projetos orgânicos e que mantenham o solo vivo. Qual empresa se habilita?
O vídeo desta viagem está aqui.